top of page
  • Foto do escritorNEMAlgarve

A problemática das espécies invasoras

MAS AFINAL PORQUÊ A PREOCUPAÇÃO COM ESPÉCIES INVASORAS?!


Para melhor compreender a preocupação sobre espécies invasoras, primeiro é necessário saber o que torna uma espécie invasora bem-sucedida, sejam elas plantas terrestres, aves, espécies marinhas, ou microrganismos.

A partir do momento que uma espécie é deslocada para fora da sua área nativa por ação humana, esta espécie passa a denominar-se espécie exótica. Se esta espécie se estabelecer num novo ecossistema e for capaz de criar uma população viável com capacidade para se expandir para outros locais ou causando alterações profundas no ecossistema que colonizou, então passa a denominar-se espécie invasora. Para mais detalhes sobre estas definições consulte o glossário.


O camarão "Palaemon macrodactylus", espécie invasora presente no estuário do Guadiana.



Uma espécie invasora possui geralmente as seguintes características (ex.: Holle e Simberloff 2005; Colautti et al. 2006; Weis 2010; Havel et al. 2015):


1. Elevada capacidade de adaptação e resistência a flutuações das condições ambientais (ex., temperatura, salinidade, humidade, exposição solar).

Muitas espécies são a todo o momento transportadas por ações humanas, inadvertidamente ou propositadamente, para locais afastados da sua zona nativa. Porém, as condições ambientais que encontram nas zonas não-nativas podem ser diferentes daquelas onde evoluiriam, pelo que simplesmente não sobrevivem. Todavia, se as condições ambientais forem favoráveis e se simultaneamente a espécie estiver adaptada a oscilações ambientais então a probabilidade de se adaptar a um novo ecossistema e prosperar aumentam.

2. Elevada fertilidade, idade de primeira maturação reduzida, crescimento rápido.

O problema com as espécies invasoras está maioritariamente associado à abundância que atingem. Partindo do princípio de que a espécie se adaptou com sucesso às condições ambientais encontradas, a sua capacidade de reprodução e crescimento dita a sua capacidade invasora. Uma elevada fertilidade significa que cada fêmea possui capacidade de produzir uma grande quantidade de descendência em cada evento reprodutivo. Adicionalmente, se ambos os sexos atingirem a idade de primeira maturação em pouco tempo, por exemplo ao fim do primeiro ano de vida, a capacidade de reprodução e expansão da espécie é bastante elevada. Desta forma, estes três fatores (fertilidade, maturação, crescimento) são muitas vezes a chave para o estabelecimento e expansão de muitas espécies invasoras.

3. Elevada capacidade de dispersão e mobilidade.


A capacidade de expansão dum peixe invasor será diferente duma planta invasora. Contudo, os fenómenos de dispersão são geralmente muito eficazes durante a fase inicial de desenvolvimento, por exemplo com a dispersão de sementes pelo vento ou animais, ou ao transporte de larvas de organismos marinhos através das correntes oceânicas.

4. Inexistência de predadores e/ou parasitas.

Quando uma espécie exótica é introduzida, ela não vai encontrar na maior parte dos casos os seus inimigos nativos, tais como predadores ou parasitas. Este facto confere uma vantagem competitiva em relação às espécies nativas com características ecológicas idênticas, o que pode permitir a colonização e expansão das espécies exóticas.

5. Oportunistas e hábitos alimentares generalistas.

Oportunistas no sentido de prosperarem em ambientes já impactados por atividades humanas, sendo capazes de explorar da melhor forma os recursos disponíveis (ex., alimento, espaço), quando em comparação com as espécies nativas.


QUAIS OS IMPACTOS QUE MAIS PREOCUPAM OS CIENTISTAS E GESTORES DO AMBIENTE?

1. Impactos ecológicos.

As espécies invasoras têm uma grande capacidade de adaptação e podem afetar diretamente as espécies nativas. Se as espécies nativas já estiverem sobre qualquer tipo de pressão, então a introdução de uma espécie invasora competidora pode ditar o seu declínio em função da competição por recursos alimentares e espaço.

Por exemplo, a introdução do lagostim-do-Louisiana (Procambarus clarkii) em vários ecossistemas de água doce da Europa alterou o fundo de rios e lagos devido à construção de buracos no sedimento, bem como do consumo de algas que existem no fundo. Estas alterações provocaram, por exemplo, o desaparecimento dos invertebrados e anfíbios que viviam associados a estas algas, causando assim um efeito em cascata ao longo da teia trófica (Souty-Grosset et al. 2016).


Lagostim-do-Louisiana (Procambarus clarkii) (foto: wikipedia.com).



2. Impactos económicos.

Estes impactos estão relacionados principalmente com espécies invasoras que demonstrem um forte impacto nas espécies nativas de elevado valor comercial, que alterem o funcionamento de todo um ecossistema, ou que provoquem danos em infraestruturas de elevado valor implicando assim avultados investimentos financeiros para as eliminar e repor estas infraestruturas em funcionamento.

Por exemplo, o crescimento descontrolado do mexilhão-zebra (Dreissena polymorpha) tem provocado avultados prejuízos económicos. Estes impactos derivam do facto desta espécie colonizar e entupir tubagens de água, incluído centrais nucleares e elétricas, refinarias, pisciculturas, instalações de abastecimento de água e navios (Petsch et al. 2021). A limpeza e/ou substituição deste tipo de equipamentos acarreta elevados custos. À escala global, os impactos das invasões biológicas foram estimados em 13.5 biliões de dólares para as 10 piores espécies invasoras (Cuthbert et al. 2021).


Mexilhão-zebra (Dreissena polymorpha) (foto: ucanr.edu).



3. Impactos na saúde pública.

O aparecimento de espécies invasoras que podem provocar problemas de saúde tem vindo a aumentar na Europa. Destacamos a vespa-asiática (Vespa velutina), espécies de medusas marinhas altamente urticantes (ex. Rhopilema nomadica), ou espécies de mosquitos do género Aedes spp. capazes de transportar doenças tropicais (Schindler et al. 2015).

A medusa "Odessia maeotica", espécie invasora presente no Algarve.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Colautti, R. I., Grigorovich, I. A., & MacIsaac, H. J. (2006). Propagule pressure: a null model for biological invasions. Biological invasions 8(5): 1023-1037.


Cuthbert, R. N., Diagne, C., Haubrock, P. J., Turbelin, A. J., & Courchamp, F. (2021). Are the “100 of the world’s worst” invasive species also the costliest? Biological Invasions, 1-10.


Havel, J. E., Kovalenko, K. E., Thomaz, S. M., Amalfitano, S., & Kats, L. B. (2015). Aquatic invasive species: challenges for the future. Hydrobiologia 750(1): 147-170.


Holle, B. V., & Simberloff, D. (2005). Ecological resistance to biological invasion overwhelmed by propagule pressure. Ecology 86(12): 3212-3218.


Petsch, D. K., Ribas, L. G. D. S., Mantovano, T., Pulzatto, M. M., Alves, A. T., Pinha, G. D., & Thomaz, S. M. (2021). Invasive potential of golden and zebra mussels in present and future climatic scenarios in the new world. Hydrobiologia, 848(9), 2319-2330.


Schindler, S., Staska, B., Adam, M., Rabitsch, W., & Essl, F. (2015). Alien species and public health impacts in Europe: a literature review. NeoBiota 27: 1-3.


Souty-Grosset, C., Anastacio, P. M., Aquiloni, L., Banha, F., Choquer, J., Chucholl, C., & Tricarico, E. (2016). The red swamp crayfish Procambarus clarkii in Europe: impacts on aquatic ecosystems and human well-being. Limnologica, 58, 78-93.


Weis, J. S. (2010). The role of behavior in the success of invasive crustaceans. Marine and Freshwater Behaviour and Physiology 43(2): 83-98.

bottom of page